quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

AS FESTAS DO POVO DE CAMPO MAIOR (3)

Em Campo Maior costuma dizer-se que as festas se fazem quando o povo quer. Mais adequado seria dizer-se que as festas se foram fazendo, consoante as condições para que pudessem ser feitas. Por isso, tendo sido concebidas para serem anuais, têm sofrido interrupções ditadas pelas circunstâncias que determinaram a vida da sua população.
            As Festas do Povo de Campo Maior adquiriram desde cedo bastante pujança e fama, a nível regional. Esse facto deve-se à grandiosidade de uma festa que consistia em ornamentar, senão todas as suas ruas, pelo menos a maior parte das ruas da povoação. Usando formas elaboradas de decoração e de iluminação, recorrendo, primeiramente a vegetação natural, depois a um material de grande efeito decorativo, o papel - utilizado para fazer balões, franjas, lenços, encadeados, bandeirolas e flores. Exigindo um considerável esforço e investimento à população local, só se podiam fazer quando a situação social era estável e havia condições económicas favoráveis .
            Nos primeiros cinquenta anos, mantiveram-se, com uma expressão muito localizada, tendo ressonância apenas nas localidades que lhe ficavam mais próximas.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

AS FESTAS DO POVO DE CAMPO MAIOR (2)

Não é fácil demarcar com rigor a data de começo das “Festas do Povo de Campo Maior”. Sobre as Festas de Campo Maior, as fontes mais antigas apontam para uma origem ligada ao culto de São João Baptista, o santo patrono que, na crença e no dizer do povo, salvara a vila porque, estando sitiada no ano de 1712,  após um cerco que durou  cerca de um mês e que, quando estava a vila quase a render-se, viu o exército espanhol levantar o cerco, desistindo da sua ocupação.  
Em agradecimento de tão miraculoso desfecho, passou a realizar-se uma missa solene, seguida de uma procissão em honra de São João Baptista, na qual participavam solenemente as autoridades municipais - que assumiam a organização e as despesas da festa popular - com iluminação nocturna das ruas, havendo bailaricos e descantes. Estranha data para tal celebração, pois esse dia era já consagrado a outro santo: Era o dia de S. Simão.
 Portanto, em Campo Maior - importante praça de guerra para a defesa da fronteira - nesta data passou a celebrar-se o fim do Sítio de 1712, em que a vila estivera na eminência de se render por falta de condições para continuar a resistir ao terrível poder de fogo dos invasores castelhanos.
Porém, quando no fim de quase um mês de cerco, a vila já se conformara com a inevitável rendição, inesperadamente, as tropas espanholas sitiantes retiraram.  Para a população, isto só podia ser entendido como um milagre. E, a divina intervenção, fora obtida por interferência de São João Baptista, patrono e protector de Campo Maior. Daí que, até meados do Séc. XX, o dia ficasse assinalado como feriado municipal e se tivesse decidido que, nesse dia, se fizessem festejos em honra do Santo Precursor de Jesus Cristo.
Esta tradição foi mantida, mas com interrupções mais ou menos longas, em períodos de grandes crises, como a Guerra Peninsular, - no início do século XIX -, a Revolução Liberalista de 1820 e as guerras civis que se sucederam até meados desse século. Quase no final do século XIX, com a pacificação da sociedade portuguesa, a tradição foi retomada. Mas, devido à instabilidade climática do mês de Outubro, as “Festas” foram recuadas para o mês de Setembro.
            Em 1893, um grupo de jovens, ligados às actividades do comércio e aos ofícios artesanais de loja aberta, resolveram reatar a tradição de fazerem as Festas em Honra de São João Baptista que, desde meados do século XIX, quase tinham deixado de se realizar. Estes jovens eram designados como “os artistas”, por terem uma “arte”, ou “ofício”, não ligado aos trabalhos agrícolas, actividade dominante na população. Daí que as festas começaram a serem chamadas “Festas dos Artistas”. Só mais tarde, já na segunda década do século XX, a designação oficial de “Festas em Honra de São João Baptista”, foi mudada pela de “Festas do Povo”, significando que passara a ser toda a população da vila que se envolvia na sua realização.
Desde que, em 1893, a tradição foi reatada e, os jovens que promoveram as Festas, traçaram as linhas fundamentais do projecto que se iria manter durante quase todo o século XX:
- A ornamentação das ruas e a sua iluminação nocturna;
- Um programa festivo do qual se destacavam as festas de igreja, com missa solene e procissão;
- As alvoradas, os concertos pelas bandas, - as locais e as convidadas ou contratadas -, que vinham das terras vizinhas;
- As touradas à vara larga, os bailes, os descantes populares e o fogo-de-artifício.
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domingo, 16 de fevereiro de 2020

AS FESTAS DO POVO DE CAMPO MAIOR (1)

Estes textos têm como objectivo explicar como nasceu e como evoluiu uma festa popular de carácter estritamente local que remonta ao século XVIII.
  À semelhança do que acontecia em muitas outras povoações era, inicialmente, uma celebração religiosa: uma procissão que evocava um milagre. Ao encontro das transformações sociais que o tempo foi tecendo, foi-se tornando uma celebração pagã, acabando por ser um evento duma dimensão que foi para além dos limites da povoação onde nasceu e mesmo para além das fronteiras de Portugal.
As depois denominadas FESTAS DO POVO realizavam-se nos finais de Agosto, princípio de Setembro. Mas, nem sempre se fizeram com periodicidade regular.   Consistiam fundamentalmente em ornamentar as ruas da povoação. No início usavam-se elementos naturais – ramagens, folhagens e flores. Mas, a partir de inícios do século XX, começaram a serem usados ornamentos em papel – cortados e colados - formando cordas, encadeados e franjas que compunham os “tectos” que cobriam as ruas. Depois, os ornamentos de papel passaram a imitar, sobretudo, as flores. Esta inclinação para as decorações florais acentuou-se de tal modo que o evento foi, por vezes, designado como a FESTA DAS FLORES.
As ruas da vila eram completamente cobertas de ornamentações feitas de papel que reproduziam uma grande variedade de flores naturais. O recurso ao papel talvez tenha sido a solução ditada por um clima de verões muito quentes e muito secos de uma região muito no interior de Portugal. De qualquer modo tornou-se notável que as ruas desta vila, de dimensão razoável, se tornassem por vezes fantásticos jardins em que as flores de papel eram o elemento dominante.
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Este texto e os que se seguem, foram elaborados com base numa comunicação por mim apresentada no Congresso Internacional Pluridisciplinar (Flores – Flowres – Fleurs) organizado pelo “Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa” e o “Centrul de Excelentă Pentru Studiul Identităţii Culturale, da Universitatea din Bucureşti”, que decorreu nos dias 6 a 8 de Setembro de 2011, nas instalações da Universidade Nova de Lisboa.
( Francisco Pereira Galego).

RECOMEÇO


Para ajustar o projeto Além Caia, resolvi criar um novo com o nome De Cá Do Caia mas sem mudar nem os seus objectivos, nem a maneira de tratar os assuntos e as questões que lhe poderão ir marcando o percurso a seguir e selecionando os temas a abordar.
Acima de tudo, gostaria que este meu monólogo fosse dando lugar a algumas conversas  recebendo como retorno as vossas opiniões. 
Assim, despedindo-me do  Além Caia, anuncio o nascimento do seu sucessor, o De Cá Do Caia que assim, agora vos apresento.