sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

AS FESTAS DO POVO DE CAMPO MAIOR (2)

Não é fácil demarcar com rigor a data de começo das “Festas do Povo de Campo Maior”. Sobre as Festas de Campo Maior, as fontes mais antigas apontam para uma origem ligada ao culto de São João Baptista, o santo patrono que, na crença e no dizer do povo, salvara a vila porque, estando sitiada no ano de 1712,  após um cerco que durou  cerca de um mês e que, quando estava a vila quase a render-se, viu o exército espanhol levantar o cerco, desistindo da sua ocupação.  
Em agradecimento de tão miraculoso desfecho, passou a realizar-se uma missa solene, seguida de uma procissão em honra de São João Baptista, na qual participavam solenemente as autoridades municipais - que assumiam a organização e as despesas da festa popular - com iluminação nocturna das ruas, havendo bailaricos e descantes. Estranha data para tal celebração, pois esse dia era já consagrado a outro santo: Era o dia de S. Simão.
 Portanto, em Campo Maior - importante praça de guerra para a defesa da fronteira - nesta data passou a celebrar-se o fim do Sítio de 1712, em que a vila estivera na eminência de se render por falta de condições para continuar a resistir ao terrível poder de fogo dos invasores castelhanos.
Porém, quando no fim de quase um mês de cerco, a vila já se conformara com a inevitável rendição, inesperadamente, as tropas espanholas sitiantes retiraram.  Para a população, isto só podia ser entendido como um milagre. E, a divina intervenção, fora obtida por interferência de São João Baptista, patrono e protector de Campo Maior. Daí que, até meados do Séc. XX, o dia ficasse assinalado como feriado municipal e se tivesse decidido que, nesse dia, se fizessem festejos em honra do Santo Precursor de Jesus Cristo.
Esta tradição foi mantida, mas com interrupções mais ou menos longas, em períodos de grandes crises, como a Guerra Peninsular, - no início do século XIX -, a Revolução Liberalista de 1820 e as guerras civis que se sucederam até meados desse século. Quase no final do século XIX, com a pacificação da sociedade portuguesa, a tradição foi retomada. Mas, devido à instabilidade climática do mês de Outubro, as “Festas” foram recuadas para o mês de Setembro.
            Em 1893, um grupo de jovens, ligados às actividades do comércio e aos ofícios artesanais de loja aberta, resolveram reatar a tradição de fazerem as Festas em Honra de São João Baptista que, desde meados do século XIX, quase tinham deixado de se realizar. Estes jovens eram designados como “os artistas”, por terem uma “arte”, ou “ofício”, não ligado aos trabalhos agrícolas, actividade dominante na população. Daí que as festas começaram a serem chamadas “Festas dos Artistas”. Só mais tarde, já na segunda década do século XX, a designação oficial de “Festas em Honra de São João Baptista”, foi mudada pela de “Festas do Povo”, significando que passara a ser toda a população da vila que se envolvia na sua realização.
Desde que, em 1893, a tradição foi reatada e, os jovens que promoveram as Festas, traçaram as linhas fundamentais do projecto que se iria manter durante quase todo o século XX:
- A ornamentação das ruas e a sua iluminação nocturna;
- Um programa festivo do qual se destacavam as festas de igreja, com missa solene e procissão;
- As alvoradas, os concertos pelas bandas, - as locais e as convidadas ou contratadas -, que vinham das terras vizinhas;
- As touradas à vara larga, os bailes, os descantes populares e o fogo-de-artifício.
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