quinta-feira, 12 de março de 2020

AS FESTAS DO POVO DE CAMPO MAIOR (7)

 – Inícios modestos, destino de fama e de longa duração?
            Outra fantasia que se criou acerca das Festas do Povo, foi a de que teriam desde sempre sido programadas para uma periodicidade de quatro anos. Nada mais destituído de fundamento real. Por um lado, as festas inicialmente começaram por se realizar todos os anos. Depois, os acasos da política ou da boa ou má sorte da população, fez com que conhecessem períodos mais ou menos longos de interrupção. Essas interrupções foram por vezes tão dilatadas no tempo que as festas chegaram a ser dadas por extintas. A seguir à Implantação da República, em 1910, estiveram sem se realizar pelo período de 12 anos. E, quando se deu o fim do salazarismo-marcelismo, estiveram sem se fazer por um período de dez anos.
            Em Campo Maior costuma dizer-se que as festas se fazem quando o povo quer. Mais adequado seria dizer-se que as festas se fazem quando existem condições para que elas se possam fazer.
            Muitos julgam que as festas tiveram sempre o modelo de ornamentação de ruas que as caracteriza nas suas últimas realizações. Nada mais longe da realidade. As festas começaram de forma muito modesta. No início não se distinguiam das festas que se realizavam em muitas outras localidades. Havia, no Alentejo, o hábito de decorar e refrescar o ambiente nas ruas, nos dias de festa, decorando os espaços públicos com ramos, sobretudo os espaços onde decorriam as actividades festivas. Daí a designação de enramação para o acto de decorar as ruas e largos, recorrendo a ramos de murta, de bucho e de rosmaninho e, devido à falta de sistemas eficazes ou inexistentes de iluminação pública, as populações utilizavam os seus próprios recursos e criatividade para vencer as trevas da noite em dias de festa.
            Em Campo Maior, começou-se pelo costume de cada um enfeitar a parte da rua fronteira à sua casa e de decorar e expor as partes da habitação viradas ao exterior, apresentando-as assim à vista de quem se passeava pelas ruas nos dias de festa.
            Esta atitude - que no começo era de iniciativa particular -, foi dando origem a uma colaboração cada vez mais intensificada entre os vizinhos de cada rua, até que os projectos pessoais deram origem aos projectos  da "COMUNIDADE DA VIZINHANÇA”.
            As Festas de Campo Maior adquiriram desde cedo certa pujança a nível regional. Esse facto deveu-se à grandiosidade de uma festa que consistia em ornamentar as ruas de toda uma povoação ou, pelo menos da maior parte das suas ruas, usando formas elaboradas de decoração e de iluminação recorrendo a vegetação natural e a um material de grande efeito decorativo: o papel utilizado para fazer balões, franjas, lenços, cadeados e bandeirolas.
            Mas as festas, porque exigiam um considerável esforço e investimento à população local, só se podiam fazer quando a população dispunha de condições económicas favoráveis. A isto não poderia ser alheia a sua localização de fronteira e a facilidade com que nesta região se desenvolviam actividades de contrabando. Tratando-se de uma prática ilícita, ela pesava fortemente na economia local por ser muito mais lucrativa do que a paga recebida - a jorna- recebida pelo trabalho no cultivo dos campos. Todas as oscilações que se verificavam, quer na parte de Portugal, quer na parte de Espanha, afectavam de uma maneira ou de outra a comunidade campomaiorense. Algumas das interrupções das festas são explicáveis por essas oscilações. Tratando-se também de uma vila muito ligada aos trabalhos rurais, as boas ou más condições da produção agrícola, eram também um factor determinante para a sua realização.

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