sábado, 11 de abril de 2020

BERESFORD, MARQUÊS DE CAMPO MAIOR

(Texto “roubado” ao Faceboock de Jacinto César, datado de Fevereiro de 2020)
Aconteceu em Elvas a 11-2-1816
Chegou a Elvas o marechal Beresford, Marquês de Campo Maior.
William Carr Beresford (2 de Outubro de 1768 – 8 de Janeiro de 1854), 1.º visconde Beresford (1st Viscount Beresford) barão e visconde de Albuera e Dungarvan, conde de Trancoso, 1.º marquês de Campo Maior e duque de Elvas, foi um militar e político anglo-irlandês que serviu como general no Exército Britânico e marechal do Exército Português, tendo lutado ao lado de Arthur Wellesley, 1.º Duque de Wellington, na Guerra Peninsular. Depois serviu como mestre de ordenanças no governo de Wellington em 1828.
Foi governador e comandante-chefe, durante seis meses, na Madeira, para evitar a ocupação da ilha pelas forças napoleónicas francesas.
Depois, em 7 de Março de 1809, terá sido escolhido pelo governo britânico, de acordo com o parecer do general Wellesley, para comandar o Exército Português. É-lhe atribuído o posto de Marechal do Exército, igual aos usados pelo duque de Waldeck, em 1797, e pelo conde de Goltz, em 1801. A sua missão era a de compatibilizar a organização e a táctica existentes no exército português com a britânica, permitindo uma actuação conjunta no campo de batalha.
Em 1817, após rumores de uma conspiração maçónica que pretendia o regresso do rei e que se manifestava contrária à presença inglesa, mandou matar os conspiradores (entre eles o general Gomes Freire de Andrade).
Viaja para o Brasil onde consegue do Rei poderes mais alargados, sendo feito Marechal-General, título anteriormente usado pelo Barão Conde de Lippe, pelo Duque de Lafões e pelo referido Duque de Wellington. Mas, devido à Revolução de 1820, é demitido das suas funções, não lhe sendo permitido sequer desembarcar em Portugal continental.
Regressou a Portugal em 1826, mas a sua pretensão de regressar ao comando do Exército não foi aceite.
Mais tarde, foi membro do primeiro governo de Wellington, de 1828 a 1830, com o título de "Master General of Ordenance", equivalente em Portugal ao posto militar de Director do Arsenal.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

SOBRE AS ORIGENS DA VILA E DO CONCELHO DE CAMPO MAIOR

Vamos tentar concluir procurando entender o ponto por onde devíamos ter começado: AS ORIGENS DA VILA E DO CONCELHO DE CAMPO MAIOR.
Todas as informações, incluindo os vestígios arqueológicos, apontam para que a povoação não tenha sido fundada no sítio onde está o castelo. Há mesmo uma forte probabilidade de que tal tenha acontecido no sítio de S. Pedro, no qual há, ainda hoje, uma ermida e onde, segundo fontes muito antigas haveria uma fortaleza ou atalaia dos romanos.
Dista a Ermida de S. Pedro da povoação dois mil passos, em terreno que consiste num vale muito fresco e muito apto para hortas e pomares, com bastante água nativa que ainda agora alimenta um chafariz e um tanque que são conservados pela Câmara Municipal desta vila. Tudo aponta para que tenha sido neste terreno que os romanos fundaram um acampamento, em que se fixaram, como sucedeu com outras povoações que, como é sabido, foram por eles fundadas.  
         No actual território do concelho de Campo Maior, terão existido antes outras povoações como a “Aldeia dos Luzios”, referida em informações de finais do Séc. XIII e a “Aldeia de Bartolomeu Joanes”, que se situaria à beira do actual caminho municipal que conduz ao sítio conhecido por ribeiro da Avelada ou Valada, outrora designado também pelo nome de Alcongobril, via que surge à distância de cerca de dois quilómetros do núcleo antigo de Campo Maior, no lado esquerdo da Estrada Nacional, que liga esta vila a Degolados e a Arronches. Perto dela, em 1688 se teria construido uma fortificação, com o objectivo de melhorar a defesa da vila dos ataques dos exércitos invasores e que era designada por “castelo velho de Campo Maior”, certamente para o distinguir do castelo novo, já então erguido no local onde agora se encontra.”
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­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­Para mais e mais desenvolvidas informações sobre este tema, consultar as obras publicadas por Estêvao da Gama de Moura e Azevedo, João Dubraz, Rui Rosado Vieira e Francisco Galego.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

CAMPO MAIOR, FESTAS DO POVO - QUADRO GERAL


 ANO 
 DESIGNAÇÃO UTILIZADA NOS PROGRAMAS
 DATAS
1893
FESTAS EM HONRA DE SÃO JOÃO BAPTISTA
7,8,9,10 Set.
1894
FESTAS EM HONRA DE SÃO JOÃO BAPTISTA
1,2,3,4 Set.
1895
FESTAS EM HONRA DE SÃO JOÃO BAPTISTA
31 Ag.,1,2,3 Set
1896
FESTAS EM HONRA DE SÃO JOÃO BAPTISTA
12,13,14,15 Set.
1897
FESTAS EM HONRA DE SÃO JOÃO BAPTISTA
4,5,6,7, Set
1898
FESTAS EM HONRA DE SÃO JOÃO BAPTISTA
10,11,12,13 Set
1902
FESTAS EM HONRA DE SÃO JOÃO BAPTISTA
30,31 Ag.1,2 Set
1904
FESTAS EM HONRA DE SÃO JOÃO BAPTISTA
3,4,5,6 Set.
1909
FESTAS EM HONRA DE SÃO JOÃO BAPTISTA
28,29,30,31 Ag.
1921
FESTAS EM HONRA DE SÃO JOÃO BAPTISTA
3,4,5,6 Set.
1922
FESTAS DO POVO
3,4,5,6 Set.
1923
FESTAS DO POVO
3,4,5,6 Set.
1927
FESTAS DO POVO
11,12,13,14 Set.
1928
FESTAS DO POVO
2,3,4,5 Set.
1934
FESTAS DO POVO
2,3,4,5 Set.
1936
FESTAS DO POVO
6,7,8,e9 Set.
 1937
FESTAS DO POVO
5,6,7 e 8 Set.
1938
FESTAS DO POVO
4,5,6,7 Set.
1939
FESTAS DO POVO
3,4,5,6,Set.
1941
FESTAS DO POVO
27,28,29,30 Set.
1944
FESTAS DO POVO
3,4,5,6 Set.
1952
FESTAS DO POVO
6,7,8,9 Set.
1953
FESTAS DO POVO
6,7,8,9 Set.
1957
FESTAS DO POVO
8,9,10,11 Set.
1964
FESTAS DO POVO
6,7,8,9 Set.
1965
FESTAS DO POVO
5 a 12 SET.
1972
FESTAS DO POVO
3 a 10 SET.
1982
FESTAS DO POVO
5 a 12 SET.
1985
FESTAS DO POVO
1 a 8  SET.
1989
FESTAS DO POVO
3 a 10 SET.
1995
FESTAS DO POVO
3 a 10 SET.
1998
FESTAS DO POVO
29AG. a 6 SET
2000
FESTAS DO POVO
26AG. a 3 SET
2004
FESTAS DO POVO
28AG. a 5 SET
2011
FESTAS DO POVO
27AG. a 4 SET
2015
FESTAS DO POVO
22AG. a 30AG.
     

Do livro "Campo Maior - As Festas do Povo - Das origens à actualidade" - Edição Livros Horizonte, Lisboa, 2004.  Autor, Francisco Galego.

sexta-feira, 27 de março de 2020

AS FESTAS DO POVO DE CAMPO MAIOR (9)

AS “FESTAS DO POVO DE CAMPO MAIOR”
As manifestações culturais que compõem o “património cultural " de uma sociedade reflectem as fases e a evolução dessa mesma sociedade.
Há manifestações culturais de carácter “mais erudito”.
Há manifestações culturais de carácter “mais popular”.
As “Festas do Povo de Campo Maior” , bem como o "cantar as saias" são a mais notáveis manifestações de cultura popular produzidas pela comunidade campomaiorense.
As "Festas do Povo" nasceram ligadas à celebração de um “mito” religioso local, próprio da sociedade essencialmente rural e agrícola que, - até meados do séc. XX-, era a sociedade campomaiorense. Mas, a motivação religiosa foi dando lugar a manifestações festivas e expressões artísticas que englobavam a intervenção e a participação de quase toda a população.
As “Festas do Povo de Campo Maior” começaram por ter um carácter meramente local. Mas, foram ganhando fama a nível regional, depois nacional, até atingirem fama, mesmo além-fronteiras.
Em finais do séc. XIX, com o crescimento duma nova estrutura social, a dos artistas, ligados às emergentes profissões artesanais, foram assumindo uma capacidade de intervençâo e de criatividade tão excepcionáis, que isso lhes valeu que a população as tenha designado pelo nome de Festas dos Artistas.
Depois, já no séc. XX, porque envolviam toda a população, levaram a que para as realizar, em cada rua, se formasse uma “comunidade da vizinhança que nela habitava.  Tomaram então a designação de Festas do Povo.
E agora que, na parte mais antiga da vila, as “comunidades dos vizinhos” são já tão escassas e tão desligadas que praticamente não dão para traçarem e realizarem novos projectos? ...
Em que irão tornar-se estas festas, ditas "Festas do Povo"?
Esta é a questão fundamental que importa entender. Estamos a lidar com uma manifestação de cultura popular que, realizada numa vila cuja população  que oscila entre 7 e 10 mil habitantes, chegou, com as suas “Festas”, a atrair muitos  milhares de visitantes.          
A sociedade actual, está, nesta vila, a atravessar um período de rápidas e acentuadas mudanças que poderão pôr em risco a própria existência desta interessante manifestação de cultura popular.
As “FESTAS DO POVO”, bem como a outra manifestação da cultura popular campomaiorense que frequentemente lhe estava associada – o “CANTAR E BAILAR AS SAIAS” –, confrontam-se com as grandes mudanças socio-culturais que poderão colocar em questão a sua sobrevivência. A menos que sejamos capazes de encontrar soluções mais adequadas às circuntâncias da sociedade em que actualmente vivemos.
Termino com esta interrogação:
            Como se deve proceder para se garantir a preservação e a continuação desta importante manifestação de cultura popular, que são as “Festas do Povo de Campo Maior”?
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Publicado por Francisco Galego.

domingo, 22 de março de 2020

AS FESTAS DO POVO DE CAMPO MAIOR (8)

 – Que presente e que futuro para as "Festas do Povo de Campo Maior"?
            Em cerca de 111 anos, as festas realizaram-se 33 vezes. Nos primeiros cinquenta anos da sua existência, mantiveram-se como uma realização cultural  muito localizada, com ressonância apenas nas localidades que lhe ficavam vizinhas.
            Depois da 2ª Grande Guerra, - mais concretamente, nos anos cinquenta do Séc. XX, - as Festas do Povo de Campo Maior conheceram um notável desenvolvimento.
Rapidamente ganharam fama a nível nacional, e mesmo internacional, devido á sua projecção para lá da fronteira.
            Aproveitando a tendência para a globalização propiciada pela extensão e pelo aperfeiçoamento dos transportes e das vias de comunicação, tornaram-se um fenómeno significativo de massificação da cultura popular e um lugar de grande romaria apesar de não estarem ligadas a qualquer fenómeno de culto ou de peregrinação.
            O desenvolvimento da economia local e, mais uma vez, devido ao efeito de fronteira, com a torrefacção de cafés, que constituiu a base de sustentação de uma indústria local a qual  permitiu um crescimento  demográfico - e a criatividade da população -, radicada numa tradição secular,  criou o milagre destas "Festas" que, apesar de muito copiadas, ainda não foram igualadas.
            Mas, como irão sobreviver as "Festas", se são tantas as mudanças e tão profundas as transformações sociais que se estão a verificar?
 Como todos os fenómenos humanos, as "Festas do Povo de Campo Maior" terão de evoluir, adaptando-se às novas condições, para garantirem a sua sobrevivência. Nota-se, - neste tempo que vivemos -, uma procura ainda imprecisa de novas soluções.
Serão as mais adequadas?
            Do acerto das soluções e dos caminhos que se escolherem depende a possibilidade de perdurarem, ou a sentença da sua extinção. As “leis” que determinam a "vida das socidades” e a sua “história”, não deixam lugar para inadaptações.
            É, nosso desejo e nossa fé, que haja um futuro, se possível ainda mais glorioso, para as Festas do Povo de Campo Maior.
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quinta-feira, 12 de março de 2020

AS FESTAS DO POVO DE CAMPO MAIOR (7)

 – Inícios modestos, destino de fama e de longa duração?
            Outra fantasia que se criou acerca das Festas do Povo, foi a de que teriam desde sempre sido programadas para uma periodicidade de quatro anos. Nada mais destituído de fundamento real. Por um lado, as festas inicialmente começaram por se realizar todos os anos. Depois, os acasos da política ou da boa ou má sorte da população, fez com que conhecessem períodos mais ou menos longos de interrupção. Essas interrupções foram por vezes tão dilatadas no tempo que as festas chegaram a ser dadas por extintas. A seguir à Implantação da República, em 1910, estiveram sem se realizar pelo período de 12 anos. E, quando se deu o fim do salazarismo-marcelismo, estiveram sem se fazer por um período de dez anos.
            Em Campo Maior costuma dizer-se que as festas se fazem quando o povo quer. Mais adequado seria dizer-se que as festas se fazem quando existem condições para que elas se possam fazer.
            Muitos julgam que as festas tiveram sempre o modelo de ornamentação de ruas que as caracteriza nas suas últimas realizações. Nada mais longe da realidade. As festas começaram de forma muito modesta. No início não se distinguiam das festas que se realizavam em muitas outras localidades. Havia, no Alentejo, o hábito de decorar e refrescar o ambiente nas ruas, nos dias de festa, decorando os espaços públicos com ramos, sobretudo os espaços onde decorriam as actividades festivas. Daí a designação de enramação para o acto de decorar as ruas e largos, recorrendo a ramos de murta, de bucho e de rosmaninho e, devido à falta de sistemas eficazes ou inexistentes de iluminação pública, as populações utilizavam os seus próprios recursos e criatividade para vencer as trevas da noite em dias de festa.
            Em Campo Maior, começou-se pelo costume de cada um enfeitar a parte da rua fronteira à sua casa e de decorar e expor as partes da habitação viradas ao exterior, apresentando-as assim à vista de quem se passeava pelas ruas nos dias de festa.
            Esta atitude - que no começo era de iniciativa particular -, foi dando origem a uma colaboração cada vez mais intensificada entre os vizinhos de cada rua, até que os projectos pessoais deram origem aos projectos  da "COMUNIDADE DA VIZINHANÇA”.
            As Festas de Campo Maior adquiriram desde cedo certa pujança a nível regional. Esse facto deveu-se à grandiosidade de uma festa que consistia em ornamentar as ruas de toda uma povoação ou, pelo menos da maior parte das suas ruas, usando formas elaboradas de decoração e de iluminação recorrendo a vegetação natural e a um material de grande efeito decorativo: o papel utilizado para fazer balões, franjas, lenços, cadeados e bandeirolas.
            Mas as festas, porque exigiam um considerável esforço e investimento à população local, só se podiam fazer quando a população dispunha de condições económicas favoráveis. A isto não poderia ser alheia a sua localização de fronteira e a facilidade com que nesta região se desenvolviam actividades de contrabando. Tratando-se de uma prática ilícita, ela pesava fortemente na economia local por ser muito mais lucrativa do que a paga recebida - a jorna- recebida pelo trabalho no cultivo dos campos. Todas as oscilações que se verificavam, quer na parte de Portugal, quer na parte de Espanha, afectavam de uma maneira ou de outra a comunidade campomaiorense. Algumas das interrupções das festas são explicáveis por essas oscilações. Tratando-se também de uma vila muito ligada aos trabalhos rurais, as boas ou más condições da produção agrícola, eram também um factor determinante para a sua realização.

AS FESTAS DO POVO DE CAMPO MAIOR (6) - - AS FESTAS DOS ARTISTAS

Em 1893, um grupo de jovens ligados às actividades de comércio e aos ofícios artesanais de loja aberta, resolveu reatar a tradição de fazer as Festas em Honra de São João, que tinham deixado de se fazer havia cerca de quarenta anos, ou seja, desde meados do século XIX.
Desde logo, traçaram o projecto de ornamentação das ruas e da sua iluminação nocturna. Ao mesmo tempo elaboraram um programa do qual se destacavam as festas de igreja, - com missa solene e procissão -, as arvoradas e os concertos pelas bandas locais ou as convidadas de terras vizinhas, as touradas à vara larga, os bailes, os descantes populares e o fogo de artifício.
            Embora se tratasse de recuperar as festas antigas, a festa foi mudada de 28 de Outubro para início de Setembro, parecendo que o motivo desta mudança poderia justificar-se por diversos factores, entre os quais, terão maior peso as incertezas do clima - atreito a ventanias e chuvadas nos finais de Outubro - e a ser um tempo em que as actividades do campo, nomeadamente com as vindimas, se desenvolvem a partir de meados de Setembro.
            Organizadas pelos estratos da população que não estavam ligados ao trabalho agrícola, estas festas, desde o seu início, foram designadas pelo povo como as Festas dos Artistas. Mas o seu nome oficial, aquele por que são designadas, nos programas e nos artigos e notícias dos jornais, foi o de Festas em Honra de São João Baptista. Este será o seu nome oficial até ao ano de 1922.
            João Ruivo, no jornal O Campomaiorense, para sublinhar o facto de elas envolverem toda a população, utiliza pela primeira vez a designação Festas do Povo que não mais seria substituida por qualquer outra designação.
A tentativa de as associarem, pelo nome, aos contrabandistas, que apareceu nos anos oitenta do século XX, terá resultado de um equivoco sem qualquer fundamento.

sábado, 7 de março de 2020

AS FESTAS DO POVO DE CAMPO MAIOR (5)

AS FESTAS DO POVO DE CAMPO MAIOR
Fantasias e realidades sobre as suas origens
Não é fácil demarcar com rigor a data de começo das "Festas do Povo de Campo Maior". Como para quase todas as realizações levadas a cabo colectivamente pelo povo, estas festas tiveram a sua génese ao longo de um período largo de tempo. Estas manifestações de cultura popular deixaram poucos testemunhos, tornando-se, quase sempre, muito difícil reconstituir a maneira como nasceram e como foram evoluindo.
Mas o povo, quando não sabe inventa. Não por má fé, ou por censurável intenção. Mas para buscar explicação para as coisas que lhe despertam interesse ou curiosidade.
As "Festas do Povo de Campo Maio"r têm sido explicadas de muitas maneiras e sempre de modo mais ou menos fantasiado. Segundo alguns, teriam nascido em determinada rua, - a Rua Nova -, e ligadas a uma determinada actividade dum grupo: o dos contrabandistas.
Nenhum documento ou facto conhecido, confirma semelhante afirmação. É certo que, o contrabando foi uma actividade importante em Campo Maior, como é natural em terras de fronteira. Mas é também um facto comprovado que, os contrabandistas, em anos em que os negócios lhes calhavam mais a jeito, tinham por hábito festejar, organizando um desfile e um arraial em honra de São Joãozinho que tomavam como protector e padroeiro das suas arriscadas actividades. Mas, estas festas faziam-se em Junho, pelo São João, e nada tiveram a ver com as outras festas que, a partir dos finais do século XIX, se começaram a realizar em Setembro.
Estas festas de Setembro começaram a fazer-se no ano de 1893. Apresentaram-se como "Festas em Honra de São João Baptista", dizendo-se que eram o reatar de uma tradição que vinha de tempos antigos. De facto, antes havia o costume institucionalizado de se fazer uma missa solene e uma procissão em 28 de Outubro, em honra de São João Baptista, em que participavam as autoridades municipais, que assumiam a organização e despesas de uma festa, com iluminação nocturna das ruas, as quais tinham sido decoradas com ramos para que passasse a procissão, com a imagem do Santo Padroeiro de Campo Maior.
É, portanto, em volta do culto de São João Baptista que se constituiu uma antiga tradição que consistia na realização de uma festa no dia 28 de Outubro, apesar do calendário litúrgico consagrar esta data a outro santo: São Simão.
Mas, esta data também celebrava o fim do Sítio de Campo Maior de 1712, em que a vila estivera na eminência de se render por falta de condições para continuar a resistir ao terrível poder de fogo dos invasores. Porém, a maneira como as tropas sitiantes tinham retirado quando a vila já estava praticamente vencida, foi considerada um milagre atribuído à divina intervenção, por interferência de São João, Patrono e Protector de Campo Maior. Daí que o dia ficasse assinalado como feriado municipal e se decidisse que nesse dia se fizessem festejos em honra do Santo Precursor de Jesus Cristo.
Aqui está a explicação de se fazerem festas em honra de São João, em dia de São Simão, tanto mais que, em Campo Maior, desde tempos imemoriais, também se comemorava o São João, do dia 23 para 24 de Junho - que é consagrado pelo calendário litúrgico,  com arraial no sítio de São Joãozinho, recinto onde existe uma capela assinalando o local onde o santo aparecera a um habitante de Campo Maior, no distante século XVI , quando terminava o reinado de D. Manuel e começava o de D. João III.

segunda-feira, 2 de março de 2020

AS FESTAS DO POVO DE CAMPO MAIOR (4)

Depois da Segunda Grande Guerra, mais concretamente, nos anos cinquenta do séc. XX, as Festas do Povo de Campo Maior conheceram um extraordinário desenvolvimento. Rapidamente ganharam fama com a crescente projecção para lá da fronteira, devido à emigração massiva para as grandes cidades do litoral e, depois, para além-Pirinéus. As Festas do Povo de Campo Maior, originariamente um fenómeno de cultura popular, foram-se tornando lugar de grande romaria, apesar de não estarem muito ligadas a qualquer fenómeno de culto ou de peregrinação.
 Passados mais de cem anos, a vila de Campo Maior, conseguiu manter esta tradição. De uma noite para a manhã do dia seguinte, os “tectos” cobriam as ruas de cordões de flores que protegiam do esbraseamento do Sol. Cada rua terá procurado encontrar uma maneira nova de se cobrir por esta espantosa magia: rosas, cravos, tulipas e uma miríade de outras flores que, pela perfeição do seu dissimulado artifício, chegam a ter tal naturalidade que, põem em dúvida, serem flores de papel. Perante tamanha beleza, torna-se inevitável, perante tal sortilégio, o espanto e somos levados a pensar como foi possível consegui-lo, graças ao empenho colectivo das sucessivas gerações de campomaiorenses.
Mas, agora coloca-se outra questão: Até quando poderá subsistir tanta magia se vivemos tempos de tão rápidas e acentuadas mudanças? Provavelmente as Festas do Povo de Campo Maior terão o destino de todos os milagres: existirão até que existam em Campo Maior, mulheres e homens capazes de acreditarem que elas podem ainda acontecer.
Como todos os fenómenos sociais, para garantirem a sua sobrevivência, as “Festas de Campo Maior”, vão ter de evoluir, adaptando-se às novas condições da sociedade em geral e, em particular, às da comunidade campomaiorense.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

AS FESTAS DO POVO DE CAMPO MAIOR (3)

Em Campo Maior costuma dizer-se que as festas se fazem quando o povo quer. Mais adequado seria dizer-se que as festas se foram fazendo, consoante as condições para que pudessem ser feitas. Por isso, tendo sido concebidas para serem anuais, têm sofrido interrupções ditadas pelas circunstâncias que determinaram a vida da sua população.
            As Festas do Povo de Campo Maior adquiriram desde cedo bastante pujança e fama, a nível regional. Esse facto deve-se à grandiosidade de uma festa que consistia em ornamentar, senão todas as suas ruas, pelo menos a maior parte das ruas da povoação. Usando formas elaboradas de decoração e de iluminação, recorrendo, primeiramente a vegetação natural, depois a um material de grande efeito decorativo, o papel - utilizado para fazer balões, franjas, lenços, encadeados, bandeirolas e flores. Exigindo um considerável esforço e investimento à população local, só se podiam fazer quando a situação social era estável e havia condições económicas favoráveis .
            Nos primeiros cinquenta anos, mantiveram-se, com uma expressão muito localizada, tendo ressonância apenas nas localidades que lhe ficavam mais próximas.